O euro: passado, presente<br>e futuro
As questões do euro marcaram e continuarão inevitavelmente a marcar o debate em torno das opções com que o País e o povo se confrontam.
Defensores e protagonistas da política de direita, de diversos matizes, apressaram-se a ver nos resultados das últimas eleições um «esmagador apoio» aos partidos do «arco do consenso europeu» e, por essa via, um apoio aos «compromissos europeus» do País, em especial no que respeita à sua manutenção no euro, submetido às regras e constrangimentos que lhe estão associados.
Confrontados com a proposta de recuperação da soberania monetária do País, libertando-o da submissão ao euro, estes protagonistas animam e agigantam papões e ameaças de toda a sorte: que seria, no mínimo, a catástrofe; e que quem o propõe não pode senão ser irresponsável. Recorrendo a técnicas de ocultação, deturpação e calúnia, procuram semear ilusões e medo. Ilusões sobre a possibilidade de, a prazo, construir dentro do euro um caminho alternativo de progresso, crescimento, desenvolvimento e justiça social. Medo sobre as possíveis consequências de uma saída e sobre o cenário negro que então se abriria sobre o País e a vida dos portugueses. Não devem ser menosprezados os efeitos deste discurso sobre a generalidade da população. Não deve ser menosprezada a necessidade de lhe responder, desmontando-o – de forma tão clara, acessível, pedagógica e completa quanto possível.
Que não restem dúvidas: a libertação de Portugal da submissão ao euro é necessária. É, além disso, possível, é viável. Mas – muito importante – tem de ser convenientemente preparada. Entre outras coisas, para defender e assegurar os direitos, os rendimentos, as poupanças e as condições de vida da generalidade da população, em particular dos trabalhadores, dos reformados e pensionistas. Naturalmente, o povo tem de estar ganho para esta necessidade.
Desastre foi a entrada e permanência no euro, como está hoje bem à vista.
Há quinze anos disseram-nos que o euro traria crescimento económico, mais emprego, melhores salários, enfim, a convergência com as economias mais desenvolvidas da UE.
A realidade, sabemo-lo, foi bem diferente. As desigualdades e assimetrias no seio da Zona Euro agravaram-se. Em Portugal, a produção nacional e o investimento caíram a pique, a dívida disparou, o défice da balança comercial agravou-se, o crescimento foi praticamente nulo. Desde a adesão ao euro, somos um dos países que menos cresce na Europa e no mundo. Produzimos hoje menos riqueza do que quando entraram em circulação as notas de euro. Mais de uma década perdida. O desemprego mais do que duplicou.
O euro foi pretexto para a desvalorização dos salários. Fosse com a chamada «moderação salarial», traduzida na prática em «actualizações» salariais inferiores às taxas de inflação, com as consequentes perdas de poder de compra dos trabalhadores, fosse, nos últimos anos, com cortes puros e duros nos salários. Tudo em nome dos «compromissos europeus» e da manutenção no euro.
Os mecanismos criados para «salvar» o euro – Tratado Orçamental, Semestre Europeu, Governação Económica, – não procuram outra coisa que não eternizar as políticas de direita levadas à prática nos últimos anos. Dos baixos salários às fortes limitações ao investimento nos serviços públicos e nas funções sociais do Estado, passando pela continuada sangria de recursos nacionais para fazer rolar uma dívida impagável.
Afirmar corajosamente o direito a um desenvolvimento soberano e a consequente necessidade de rejeitar constrangimentos e condicionalismos como os associados ao euro é recusar esta sentença. É derrotar a teoria das inevitabilidades. É afirmar que não nos conformamos com o empobrecimento, nem com o retrocesso, dependência e submissão do país a interesses alheios ao seu povo.
Libertar Portugal da submissão ao euro resolve todos os problemas do País? Não. Longe disso. Mas removerá um grande obstáculo a essa resolução. Porque o euro é um grande obstáculo ao progresso social e ao desenvolvimento.
O futuro do País será determinado pelas políticas que venham a ser postas em prática. Uma política patriótica e de esquerda requer a libertação do euro e dos constrangimentos que lhe estão associados. Por outro lado, essa libertação deve ser articulada com outras facetas de uma política alternativa global, patriótica e de esquerda.
Libertar Portugal do espartilho do euro não será uma condição suficiente, mas será uma condição necessária para sair da «austeridade» eterna e para, em última análise, recuperar e desenvolver o País e elevar as condições de vida do nosso povo.